Dos 35 assassinatos ocorridos em 2014 em Santa Maria, pelo menos 24 têm ligação com o tráfico de drogas. Autoridades e órgãos de segurança pública são unânimes em dizer que o tráfico é o gerador da maioria dos outros crimes na cidade, cria uma teia de relações, envolve centenas de pessoas, mantém milhares de usuários, movimenta grande volume de dinheiro e armas, traz poder e status aos traficantes e medo à população. E tudo isso é comandado de dentro das casas prisionais.
:: Conheça os grupos rivais de Santa Maria
A partir desta edição, o Diário começa uma série de reportagens sobre a rede do tráfico de drogas ilícitas em Santa Maria. Mostraremos quem são os líderes locais e quem são os traficantes que os abastecem, como funciona esse mercado dentro e fora da cadeia e a ligação com a onda de violência que atinge a cidade desde o fim do ano passado. A série também falará sobre os crimes relacionados ao tráfico, como eles impactam na vida da população e o que é possível fazer para freá-los.
1. Quem comanda o tráfico:
o organograma
O tráfico não para quando um traficante considerado uma liderança de grupo ou facção é preso. Os líderes seguem comandando os seus aliados ou subordinados de dentro da casa prisional. É assim no Estado, é assim no Coração do Rio Grande. No organograma do tráfico na cidade, os traficantes que movimentam as maiores quantidades de drogas estão na Penitenciária Estadual de Santa Maria, a Pesm (veja ao lado). De lá, usando celulares, compram o entorpecente, viabilizam o transporte e a distribuição para os pontos de venda e ditam as ordens para a comercialização. Também é de lá que recrutam novos soldados e orquestram ações criminosas como assaltos e roubos para financiar os negócios - além do tráfico, a compra e a venda de veículos e imóveis. Determinam, dependendo das desavenças e inadimplências, quem deve ser castigado, quem pode continuar vivendo e quem deve morrer.
- Assim como o crime em larga escala e o crime organizado, em Santa Maria, a nossa estrutura criminosa também é coordenada de dentro dos presídios porque o acesso dos presos aos celulares é muito fácil - diz Sandro Meinerz, titular da Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec).
Apesar de não divulgarem números exatos, as autoridades de segurança pública atribuem a maioria dos homicídios ocorridos neste ano a dívidas de drogas, desavenças relacionadas ao tráfico e disputa por mercado (veja o mapa dos 35 homicídios na cidade em 2014 na página 18).
- O que acontece, hoje, são ajustes de contas, brigas por poder em determinados locais da cidade e golpes que os pequenos (traficantes) que estão fora da cadeia tentam dar nos que estão dentro. A dívida do tráfico é cobrada de outra maneira (que não em dinheiro), até porque o traficante, para ter poder, tem de demonstrar força. E como ele demonstra força? Matando, agredindo, usando violência - afirma o delegado.
Santa Maria não tem facções, diz a polícia
Apesar de toda a violência desencadeada pelo tráfico - assaltos, roubos, tentativas de homicídio e assassinatos -, se considerarmos o volume de negócios, o poderio dos traficantes locais tem diminuído ao longo dos anos. Não é fácil tocar os negócios de dentro de uma penitenciária somente com o celular. Afinal, como diz o ditado popular, é o olho do dono que engorda o gado.
As frequentes apreensões de entorpecentes e as prisões dos líderes enfraqueceram as organizações, que perderam divisas e contraíram dívidas com fornecedores. Atualmente, segundo a Polícia Civil, Santa Maria não tem facções criminosas organizadas. A pergunta é: até quando?
Se é de dentro da penitenciária que os traficantes locais coordenam seus negócios, também foi por meio do sistema carcerário que se formaram as ligações dos t"